A apenas cinco meses da COP30 — marcada para ocorrer entre 10 e 21 de novembro de 2025 em Belém do Pará —, o cenário no qual será sediada a conferência climática mais simbólica da humanidade está se tornando uma armadilha para os mais vulneráveis e um vexame diplomático coletivo.
Os valores de hospedagem nos bairros centrais de Belém ultrapassam qualquer parâmetro conhecido. Suítes que custariam R$ 1.500 foram reajustadas para até R$ 4 mil, enquanto pacotes completos chegam a R$ 1,3 milhão por 11 noites — um absurdo denunciado por entidades e imprensa internacional. Diárias de até US$ 15.266 (~R$ 76 mil) chegaram a ser anunciadas, o que representa uma escalada brutal de 9.600% em serviços básicos. Profissionais de ONGs, jornalistas e negociadores de países em desenvolvimento veem sua participação ameaçada por tabela.
Tais abusos motivaram uma reunião emergencial do "COP bureau" da ONU, onde delegados demandaram soluções imediatas ou cogitaram transferir a sede da conferência. O alerta foi claro: manter a sede em Belém pode inviabilizar a presença efetiva de países africanos, diminutos Estados insulares, indígenas e da sociedade civil.
Apesar da pressão, as respostas têm sido tímidas. O governo brasileiro anuncia 30 mil leitos — entre navios de cruzeiro, salas adaptadas, hotéis —, além de uma plataforma oficial de hospedagem e preços regulados entre US$ 100 e US$ 220 por noite. Ainda assim, esses valores superam em muito o subsídio diário da ONU, de apenas US$ 149.
A situação acende um estopim crítico: o paraense acha que só eles são espertos e o mundo é pateta? Transformar a COP30 na Amazônia em um megashow excludente, onde apenas os privilegiados se hospedam com vistas ao rio, é um escárnio. A tão propagada “virada climática global” ecoa vazia se não houver equidade no acesso.
Não se trata apenas de sediar mais uma COP. Trata-se de um evento que se pretende simbólico — mas não se sustenta sem representatividade ampla. Se ativistas, pequenos países e movimentos indígenas não conseguirem entrar por preços abusivos ou falta de hospedagem, a conferência sucumbirá à contradição maior: um espetáculo de justiça climática que silencia os que mais sofrem.
Se não houver soluções concretas e acessíveis até o dia 11 de agosto, prazo estabelecido pela ONU para respostas, a COP30 corre o sério risco de deixar um legado perigoso: não a justiça ambiental, mas a fraude da exclusão.
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